sábado, 1 de agosto de 2009

DOIS CONQUISTADORES ROSARIENSES NA CAPITAL


Em 1976 deixamos Santa Maria e fomos para Porto Alegre, eu para trabalhar e o Flávio para estudar, tinha passado em Engenharia Civil (os meus estudos ficaram meio prejudicados).

Com pouco conhecimento da capital, fomos morar na Pensão Vitória, na Rua da Praia (indicação do João Mayer, pai do Flávio, que morou no local no período em que cursou a universidade, “muito boa” segundo ele.)

Nos instalamos e começamos reconhecer o território, só íamos numa reta até o fim da rua e voltávamos, cheio dos conhecimentos.

Uns 15 dias após a nossa chegada, já confiantes, num fim de semana resolvemos, após tomar uns sambas (canha com coca), dar uma volta mais ousada lá pelas 10 da noite. Fomos descendo a rua João Pessoa em direção à Ipiranga, olhando bares e pessoas. Passamos pela Redenção e chegamos na Avenida Venâncio Aires, cruzamos, andamos uns 50 metros e vimos um bar, CORRENTÃO, cheio das correntes na frente, bem produzido e bombando.

Nós, curto dos trocos, fizemos um balanço e resolvemos entrar, dar uma olhada, tomar uma cerveja cada um e depois voltar pra casa.

Entramos, aquela porta entre aberta e logo vimos no centro próximo a pista de dança (música ao vivo) duas mulheres lindas e nos olhando.

O Mayer não agüentou: -“Tchê loko, é pra nós que elas estão olhando”.
- “Capaz Flávio, é muito pra nossa bola”.

Não era! Trocamos de posição e elas continuavam seguindo com o olhar. “Vamos ver o que acontece”, me disse o Flávio, e fomos.

Sentamos à mesa, som bem alto, uma penumbra meio clara, nós extasiados com a nossa sorte. Pedimos uma cerveja e enquanto o garçom buscava, o Flávio já foi convidando a pretendente para dançar. Entrou na pista (o samba, já fazendo efeito) e incorporou o Carlinhos de Jesus, e da dança pra o “chega mais”, aperto e beijo foi num upa.

Eu já tava dando uns selinhos na minha e a cabeça dela encostada no meu peito, mas com ciúmes do Mayer. Um pouco acanhado, vi que na volta das mesaslotadas, estavam uns corpos estranhos (nós só tínhamos visto travesti nas fotos de bailes do Rio e na Revista Capricho!), e me caiu a ficha. Dei uma olhada pra minha morena, maravilhosa, e vi o gogó mais acentuado que o normal, o que era um forte indicativo que estávamos na frente do dito.

Olhei para o pé, bem mais cuidado que o meu, e bem maior, resolvi avisar o parceiro que estávamos em terreno estranho. Olho para a pista e o Flávio de beiço grudado nem me olhava, e quando me olhava era pra me chamar pra dançar: -“Vem, abostado!!”.

A música parou e ele eufórico chegou na mesa. Eu tentando avisar que a conquista não era o que parecia, e ele nem bola, era selinho e selinho, com a mão perto dos “gomos” do corpo, e se achando o máximo! Todo mundo olhando pra ele e ele com aquela “baita boa”.

A coisa se acalmou, dei a entender pra ele: -“Isto aí é o QUETA fantasiado”, acho que é travesti.
Ficou meio desconfiado e não acreditando até que o amor chegou pra ele e disse, com voz grave: -“Me paga uma Cuba”.

O Flávio reage assombrado perguntando: -“TU É HOMEM??”

Bah, foi a cena da noite, o Flávio se guspindo como se estivesse engasgado, e as moças terminaram embrabecendo com a desfeita. Puxaram uns Knifes, tipo navalha, e vieram para nos dar uns conselhos.

A porta ficou pequena. Embalamos lá do fundo,empurrando tudo por diante, o pessoal ainda não tinha reparado na desfeita que foi feita pras moças, mas correram também pra saída, num “gritiriu”, e os outros já foram se arregimentando aos colegas.

Conseguimos chegar na Avenida e meio sem saída, corremos para a Redenção, tudo escuro, e subimos numa árvore alta e lá ficamos, quietos, com aquele vespeiro procurando os infratores (além de não pagar os garçons, cometemos aquela OFENSA...).
Conseguimos descer da árvore lá pelas 3h da madrugada, muito silenciosos, e corremos até o nosso quarto. Parecia que sempre tinha gente atrás.

Levamos alguns meses até nos aventurarmos novamente pela João Pessoa.

Eu com medo de ser reconhecido e o Flávio com medo de ser pedido em casamento...