sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O ALFEU, (meio) PAI DO ROBSON




O Robson e o Demitre, logo após um curso intensivo/avançado de “como ganhar galinhas”, se achavam o máximo. Investigavam os galinheiros e queriam se manter em constante treinamento pra não perder a prática. Arrumaram até uns capotes, onde dava pra levar até 4 galinhas embaixo sem chamar a atenção.

Uma noite estávamos na casa do Gordo Armando quando eles sugeriram uma galinhada. Já tinham um galinheiro em vista, devidamente estudado. Ficava próximo à casa do Seu Vítor, na Voluntários da Pátria, depois do hospital. Faltava apenas preparar o restante, pois as 4 galinhas já estavam garantidas nas mãos deles (éramos poucos para jantar, apenas 8).

Acertados os detalhes da janta, saíram os dois. Pegaram seus apetrechos e se dirigiram para o local escolhido. Deu tudo certo, cada um com duas penosas mortas embaixo do casaco, voltando pela Voluntários da Pátria. Um em cada lado da rua. Beleza!

Beleza nada... Era verão. E um guarda noturno desconfiou dos casacos e das figuras, e mandou que eles parassem. Como ele estava no lado da calçada que estava o Robson, pegou ele pelo braço e logo viu as galinhas, enquanto o Demitre já deitava o cabelo. O Robson argumentou que elas vinham da casa da mãe dele e iam para uma janta com amigos. Mas não adiantou pra convencer o guarda, e ele foi levado pra delegacia, sustentando a versão que as galinhas eram dele, mesmo que o Mário Cuiudo (o encarregado da Delegacia) não acreditasse muito.

Quando ele se identificou como filho do Dr. Adão e disse que morava ali por perto, a coisa amenizou. Mas o M. Cuiudo disse que ele só sairia dali junto com o pai, e apenas no dia seguinte, se o Delegado assim decidisse.

O Demitre, quando viu que o Robson tinha sido “impedido”, correu até onde nós estávamos e contou do sucedido. Fomos até a delegacia, mas não podíamos aparecer, pois aí a coisa podia complicar mesmo.

Saltamos o muro pra dentro da Delegacia e fomos até o Robson através da janelinha da cela que ele estava ("boi preto"), e ele nos relatou as decisões do Mário Cuiudo, mas avisou que “deuzulivre” se o pai dele soubesse. Não tava apavorado, pois estava tudo bem, só “não chama o pai...”.

E o que fazer? Chamaram o Olavo, pai do Demitre pra quebrar o galho. Mas o Mário conhecia o Olavo, não dava... Decidi então pedir pra um vizinho do Robson, o Dr. Alfeu, veterinário do Sindicato Rural, pai da Nira e do André. Pessoal muy calma e tranqüila, podia dar certo...

Bati na janela do quarto até que acenderam a luz, perguntando quem era.

Respondi: “Alfeu, aqui é o Loko, o Valenzuela, preciso falar contigo agora”.
Diz o Alfeu: “Mas o que que tu quer essa hora?”
Eu disse: “Não posso te dizer aqui, sai ali na frente pra falar...”
Observação: A janela do pai do Robson ficava do lado da do Alfeu...

Ele abriu a porta da frente. Eu entrei no escritório e expliquei que precisava de um pai para o Robson que convencesse o Mário Cuiudo, mas o Adão não podia saber da situação. O Alfeu topou, vestiu as bombachas, alpargatas, lenço, bem gaúcho, e se foi a passo firme pra falar com a autoridade.

Bateu na porta. O Mário não esperava...
“Boa noite, Seu Mário. Fiquei sabendo que o meu guri tá ai, o que foi que ele fez desta vez?””

O Mário já saiu se explicando... “Me desculpa, Doutor, não sabia que era o seu guri, senão eu já tinha soltado.” E contou pro Alfeu a história do guarda noturno. O Alfeu concordou: “Mas tá certo... Senão esses guris tomam conta da gente.”

O Mário chamou o Robson que veio cheio de receios, cabeça baixa, enquanto o Mário mostrava as duas galinhas. O Alfeu se agigantou... “As galinhas da tua mãe, não é? Por acaso tu anda com fome? Não vê o constrangimento que me faz passar perante a autoridade? Não tenho nem o que falar de tanta vergonha... Amanhã tu vai levantar cedo e cortar grama, arrumar o pátio...”.

Aproveitando a chance, o Alfeu terminou de mijar o Robson... “Mas desta vez, tu não vai jogar tudo pro pátio do vizinho, que já me fez queixa umas quantas vezes. Tu vai limpar tudo e vai lá juntar o que sobrou de sujeira da última vez. Pega essas galinhas e me espera em casa”. Agradeceu o Mário e seguiu o passo tranqüilo.

Na esquina debaixo nós só abanamos pro Alfeu,prometendo uma janta, mas não tivemos nem tempo de retribuir a galinhada pra ele. Ficamos só na promessa e agora na saudade...

Obs.: O Éder, que era uma dos 8 loucos de fome, pouco tempo depois ficou genro do Alfeu, casando com a Nira.

O JOÃO CAVALO E A PATENTE.

Estávamos na Praia (a das Areias Brancas), final de noite. Eram umas 3h da madrugada. Estava frio, eu lembro bem. Foi quando chegou o João Cavalo, em seu Maverick 302 V8, babando de tão bêbado. Ele sentou numa cadeira na nossa mesa, quase dormindo. Estávamos no bar do Mamute (esperando a Beth, mulher do Mamute, nos preparar uns kibes) enquanto tomávamos, claro, umas cervejas.

No bar do Mamute não havia sanitários, e as necessidades fisiológicas dos clientes eram feitas em uma casinha (patente), com um buraco de 1 metro de profundidade feito na terra mesmo e uma cadeira sem lastro para passar o escoamento. Adorável. Ficava no escuro perto de uma cerca, junto com umas “unhas-de-gato”.

O João começou a balbuciar: “Tou me mixando... Me mijando... Me minxan...”.

Enquanto ele exclamava, eu e o Melado fomos até a dita casinha e a mudamos ela mais ou menos meio metro do local onde estava. O buraco ficou exposto, mas no escuro da noite não dava pra ver.

O João levantou e saiu cambaleante em direção à casinha. Ao levar a mão na porta ele sumiu. Ficamos esperando o resultando ouvindo aquela voz embargada do João dizer: “Cheguem guris, cheguem... Eu tou mal...”.

Corremos todos pra lá, mas ninguém queria (obviamente) chegar perto do João Cavalo, que se debateu naquele buraco e ficou com mer** e larvas até a cintura.

Arrumaram uma taquara e o ajudaram a sair, mas o fedor era incrível.

Ele se recuperou um pouco, pegou uma faca e perguntou: “Cadê o Loko?”

Deu um ataque de fúria nesse cristão e ele saiu me correndo. Pra me livrar, me fui pro Rio Santa Maria. Entrei de sapato, jeans e casaco, e fiquei só com a cabeça fora d´água. Ele não conseguia me ver, mas não saia da beira. Ficou raspando aquela sujeira toda e se lavando, enquanto proferia: “Um dia vai ter que sair e eu vô tá te esperando”.

Louco de frio, fui descendo o rio a favor da correnteza, depois de uns cem metros saí e me mandei pra casa. O João só desistiu no clarear do dia, se enrolou num pano e foi embora.

Conseguimos conversar depois de uns 2 dois, e eu morri negando o fato. Passada uma semana, não se podia ficar perto do João Cavalo, ainda mais se fosse contra o vento. Aquele troço se entranhou nos poros e quando ele suava ninguém suportava o cheiro que exalava do corpo.

Após mais de ano e pela insistência dele, tive que admitir que tive influência no acontecido. Ainda bem que ele já tinha largado a faca...

quarta-feira, 17 de março de 2010

OS HOMENS DA RFFSA



O Quinda, produção do Cacequi, marido da Rose, irmã da Gi, minha prenda, filhas do Prosper e Erica, era motorista de máquina na RFFSA, o que, na época, era tipo oficial do exército.

Num final de tarde, em Cacequi, estavam eles (eram 8) num refeitório com os párias do mesmo nível, quando chegou a noticia que havia morrido a mãe do Astrogildo, colega, bom parceiro, amigão (ele tinha perdido o pai há pouco tempo), e como os familiares estavam todos fora do local do sepultamento, ninguém poderia comparecer ao féretro.

Deliberaram, não poderiam deixar de ir. Só tínham compromisso na manhã seguinte, 7h, e não tinham motivos para não apoiar o parceiro.

Após chegarem a um acordo, pegaram uma máquina sem vagão, e se dirigiram ao “FOGUISTA LACERDA”, estação que ficava entre Cacequi e Rosário, 5 km de onde estava sendo realizado o velório.

Chegando lá, colocaram o veículo em um desvio, mas só se dirigiram ao local após comprarem canha a granel em um bolicho, que era mais barata. Chegados no Foguista, continuaram a pé os 5 km restantes. Todos eles aprumados, de camisa “volta ao mundo”, xodó da época, se dirigiram ao local.

O problema é que começou a esfriar, a temperatura caiu de repente, coisa que é normal na região, mas naquele dia eles não estavam preparados.

A canha já tinha terminado antes de chegarem ao velório. Mas quando chegaram, rezaram com todo o respeito, Quem não dava trégua era o frio...

Foi quando um dos parceiros comentou que o pai do Astrô era um baita borracho, e que devia ter alguma bebida que os aquecesse escondida por lá. “Nós não vamos agüentar de frio, temos que procurar alguma coisa ou fazer um fogo!!!”

Dito isto, saíram da sala onde estava a defunta, e começaram a procurar nos quartos, no galpão, na ordenha, por tudo. Até que em um dos armários ao lado da cozinha, acharam um vidro com uns 2 litros de destilado em infusão. Tinha uma raiz grande e algumas frutinhas, já bem passadas, que estavam esverdeadas. Até discutiram se seria gengibre ou alguma outra especiaria.

Abriram o pote e curtiram todo aquele achado dos deuses. E foi este achado o que ajudou a passar a noite e tapear frio.

Perto das seis da manhã, pegaram a carona e se dirigiram de volta ao refeitório. Não tiveram problemas, seguiram a rotina.

Passado alguns dias, após a licença nojo (do luto), o Astrogildo já trabalhando se encontrou com os colegas no almoço em Cacequi. Agradeceu à todos pelo empenho de terem ido confortá-lo naquele momento.

E fez o seguinte comentário: “Aconteceu uma coisa estranha no velório da mãe. Ela tinha guardado num pote com álcool, fruto de uma operação, um apêndice infeccionado e umas pedras da vesícula, que ficaram brilhando, pareciam polidas, e o álcool sumiu de dentro do pote...”

Dito isto, cinco dos maquinistas saíam correndo da mesa, com uma ânsia muito grande, inclusive o QUINDA, que tinha chupado as frutinhas.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O PNEU

Nossa transição da infantilidade para adolescência foi pela General Osório, entre as ruas Bento Martins e Barão do Rio Branco, em Rosário do sul. Ali fora nosso espaço de vida, tendo como referência o Posto Texaco. Tínhamos uma turma de jogar bolita, futebol na rua que não era calçada, e nos reuníamos... Eu, Flávio Mayer, Chibo, Nando (Fernando Ribeiro), Cabana, Cândido, Gordo (irmão do Cândido), Beto, Roberto (filho do Seu João e da Dona Ilda do INPS), mais as gurias, a Suzana (irmã do Beto), a Vera (minha irmã) e a Eunice. Esses e mais o Dirceu, que como empregado da Marlene Zago, era o explorado do posto. Nessa época, nós tínhamos um medo mortal da Marlene. Quando alguém gritava “Aí vem a Marlene”, era um Deus-nos-acuda...

Atrás do posto tinha um reservatório de água, para lavagem de carros, e tomávamos banho dentro, o que a deixava furiosa. Numa feita, num fim de semana, o Sargento Cândido, pai do Cândido e do Gordo que moravam ao lado do reservatório (homem muito gordo), resolveu se refrescar no tanque junto conosco. Mas quando deu o alerta, ele não conseguiu sair a tempo e entalou. A Marlene descarregou um repertório de palavrões sem cabimento pra o homem(logo ela que era cheia dos pecados) que ele nunca mais quis praticar natação na nossa piscina!

Bueno, quase ninguém tinha televisão na época. Na frente do Flávio tinha uma, do Seu João que veio de Canoas e morava ali junto com a mulher e os filhos, numa casa bem antiga. Nós ficávamos a maioria na janela, pelo lado de fora, vendo os chuviscos. Conforme o nosso comportamento, ele não deixava nem espiar, como castigo. O que gostávamos de assistir era o “Ring 12 LiquiGás”. Nossos ídolos era o “Fantomas”, “Teddy Boy Marino”, e etc.

Numa noite, durante uma pelada na rua, pelas 21h, o Roberto nos chamou urgente ,pra ver pela janela uma brincadeira nos Estados Unidos, onde uma pessoa entrava no centro de uma câmara de borracha,onde ficava preso por uma rede. Largavam a pessoa numa pista protegida, onde ele descia em declive. Davam saltos e coisas do tipo, e nós achamos aquilo a coisa mais linda.

No outro dia, o Nando e o Chibo, que vinham após o almoço (depois da aula)pra brincar e tinham visto a novidade, contaram ter visto um pneu de trator, desmontado no Texaco, que era de propriedade do Seu Alcides Zago (marido da Marlen - informação colhida junto ao Dirceu).

Em diagonal ao Texaco morava o Seu Macedo (Vô da Rosângela e da Viviane) que tinha uma loja de calçados e criava galos de rinha no pátio, em gaiolas que eram suspensas do chão, todas em fila e tudo bem organizado, cercados por um muro.

Fomos ver o pneu e já o trouxemos junto pra frente da minha casa e da Vera, e que era o ponto mais alto da rua, com um declive duns 30 metros. Até a esquina deveria dar uns 120 metros...

Ficamos ali sentados no pneu e esperando que algum pato resolvesse fazer a viagem. Foi quando vimos o Beto e o Roberto saindo de casa para se juntar a nós, e fingimos discutir quem iria primeiro. O Roberto chegou e já se intrometeu: “A idéia foi minha, eu que chamei vocês. Eu tenho direito de ir primeiro...”.

Concordamos com ele imediatamente. Ele realmente tinha este direito...!!!!

O Beto dizia: “Não vai, não vai, que vai dar zebra. Tu vai te machucar e o pai vai te dar pau...”. Enquanto isso, a gente convencia o Roberto: “Capaz que tu vá te machucar, entra logo nesse pneu. Se tu não te anima, vou eu, capaz que alguém vá se machucar!”

O Roberto entrou, e fomos posicionando ele na descida. E antes que ele pudesse se arrepender, o empurramos ladeira abaixo... Mas nossos cálculos não funcionaram... Após uns 30 metros, e já com uma boa velocidade, o pneu bateu numa pedra, levantou mais ou menos 1 metro do chão e começou a pender pro lado esquerdo. Quando chegou no cruzamento, tinha um valo feito pela água. Foi aí que ele subiu mais uns 3 metros, aterrisou no meio da rua e subiu de novo, indo parar no muro do Seu Macedo,o derrubando... Entrou no meio das gaiolas dos galos e o que não derrubou, ele quebrou, espalhando todo o bicharedo e indo só parar no outro muro, depois de bater numa laranjeira.

A nossa debandada foi geral. O Beto, sentindo a tragédia, avisou a Zuleica, irmã mais velha e de poucos sorrisos, e foi correndo para o INPS pra chamar o pai e a mãe deles. O “pneunauta” Roberto, teve 2 costelas quebradas, luxações por todo corpo, um corte na testa, ficou rengo por uns 30 dias e quase terminou o ano infrequente no Colégio Marçal Pacheco.

O Seu João fez queixa pra todos os pais, nos cortaram a mesada e a junção na rua; também nos cortou o “Ring 12”, proibiu os guris de falarem conosco e nós ficamos uns 2 meses evitando de passar na frente da casa dele, quando não estava trabalhando. Os galos do Seu Macedo se espalharam de uma maneira que tiveram que esperar a noite para juntá-los, empuleirados em algumas árvores da vizinhança.

O Seu Macedo tinha problemas de audição, e não entendeu direito como o desastre tinha acontecido. Colorado doente, costumava ouvir os jogos do Inter através dos nossos sinais. Pessoa sensacional, continuou nosso amigo. Hoje mora nas nossas lembranças e mentes, e principalmente, no coração.

OS PELADOS (A vingança do Japonês)

O João namorou na Faculdade uma colega de sobrenome Trevisan. Diziam que era chegada nos pilas, e deveria ser mesmo, pois as caronas e as visitas que fazia ao mesmo eram sempre em carro do ano. Só que pra namorar o João, alguém ficou fora da fila (as boa nunca estão sozinhas, e se estão, deu defeito...).

Num fim de semana ficamos em Santa Maria somente eu, o Ney, o Japonês e o João. O Lacerda não desgrudava da Fátima, o Bafo da Cibele, o Botinha de guarda na Base e o Estevão controlado pela Tudinha Amaral (nós também tínhamos medo da Tudinha)

Naquele sábado tinha uma festa da Veterinária, e o João nos convidou. Fomos os 4. Aperitivamos um Velho Barreiro com Cola-Cola antes, pois lá dentro o dinheiro ia ficar curto. Ele, João, tinha meio que se desentendido com a namorada (colega dele) e nós não sabíamos. Fomos ao local, Clube Santamariense, na Venâncio Aires. Compramos os ingressos e entramos.

Não tínhamos nem chegado no salão e já recebemos a informação que a namorada, que agora era ex do João, tinha voltado com o ex dela. Íamos subindo as escadas, e foi quando o João viu o re-enlace que havia acontecido. Ele ficou frio, pois não era de rolo.

Mas o atual da ex-namorada do João, também o viu. Sem mais nem menos, se veio pro lado do João, tipo assim, touro bem brabo e ferido. Ninguém esperava aquela reação desnecessária, e junto com o cara vieram 6 colegas, que já acertaram o João de prima. Não ficamos parados e reagimos (bem rápidos e quase à altura)... Mas eles nos babaram a pau, e fomos retirados pra fora do baile pelos seguranças, sem conseguirmos tocar no chão até a rua.

Perdemos o dinheiro do ingresso (que claro que não quiseram nos devolver) e ainda sofremos algumas ameaças. O João perdeu a namorada, mas acho que terminou ganhando, pois já tinha dado uns galopes suficientes no corpo. Nos retiramos, pelados ($), algumas dores no corpo e no ego, subimos a Venâncio, entramos na Av. Rio Branco em direção à GARE, e em frente à Catedral sentamos, ficamos conversando, meio desnorteados, até que o Ney teve uma idéia: “Vamos fazer uma corrida até em casa. Quem perder paga um Barreiro.”

Aceita a proposta. Mas com uma condição: “Vamos correr pelados”.

O Japonês (Cléber) não aceitou, e propôs: “Eu vou na frente, levo a roupa de vocês e abro a porta do edifício”. “Beleza”, concordamos. Nos escondemos atrás de uma carrocinha de cachorro-quente no lado da Catedral, nos pelamos e ficamos só de sapato e meia.

O Japa pegou nosso vestuário e se mandou em direção ao Brillman. Deixamos ele andar umas 3 quadras e saímos correndo ladeira abaixo, pelados e gritando: “Iauh hu huu...”.

Era uma festa!!

Na esquina da Silva Jardim com a Rio Branco, tinha uma delegacia da Polícia Civil e um posto de gasolina chamado Cilindrão. Para nosso azar, bem do lado do cilindrão, estava estacionada uma Veraneio da BM com 5 PM´s dentro. Passamos lotado por eles. Eu na frente, depois o João e mais atrás o Ney, que estava em desvantagem, pois corria com um sapato de plataforma com uns 15 cm., que ele usava pra ficar mais alto.

Quando viu o camburão, parece que turbinou, pois passou por nós com tudo! Chegavam a saltar chispas das plataforma! Os PM´s demoraram um pouco pra se organizar, o que deu tempo pra chegarmos na nossa porta, que ficava de frente pra Ernesto Becker. Fomos entrar. Estava tudo bem trancado. Chamamos o Japa e nada, mas já ouvindo a sirene do camburão.

Seguimos correndo pela Ernesto Becker até o posto que ficava uns 50 metros à frente. Entramos pro pátio do posto, e nos atiramos dentro da rampa de lavagem e lubrificação que era puro barro e graxa, ao ponto da plataforma do Ney ficar só com os topes do cadarço de fora, e nós até as canelas de barro. Os Brigadianos passaram umas 3 vezes pela rua, já sem sirene, e desistiram. Aguardamos uns 20 minutos e fomos de novo até a porta pra ver se alguém abria ela pra nós, ou pra tentarmos arrombar, ou coisa parecida.

Chegamos na porta e lá estava o Peninha Amaral, apaixonado e cuimento, se despedindo da Leila do Correio (do qual era namorado e ela nossa vizinha, morava no 2º andar).

“Abre a porta, Peninha. Deu uma zebra conosco”, pedimos.

O Peninha, tomado de um pudor desmedido, primeiro tapou os olhos da Leila pra que ela não visse a cena, e logo começou a nos dar lição de moral... “Vocês não respeitam ninguém, onde já se viu, tinham que ir pra cadeia”, etc., etc., etc.

Tava enfezado no discurso, quando a Leila empurrou ele pra um lado, dirigiu a chave pra abrir a porta e disse: “Fecha essa matraca! Tu não vê que os guris precisam de ajuda?”

Abriu a porta e subimos correndo. O namoro deu crepe ali mesmo. E convenhamos: a Leila era muita bonita (e boa). O Peninha era isso que ainda anda por aí, agora até está um pouco melhor. Ela era demais pra bola dele...

Chegando lá em cima, nossas roupas estavam na cozinha, e nada do Japa. Apareceu em casa dali uns 4 dias, com uma cara que mais parecia um sorro. Nós não falamos nada, nem ele. De tanto fazermos judiaria pro Japa, entendemos que essa fora a maneira que ele achou pra se vingar das nossas sandices. O bom cabrito não berra...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

É CARONA, PAI.

Num final de madrugada, domingo, dia claro, o Flávio estava num colóquio amoroso com sua prenda, M. O., ao lado do colégio das freiras. Naquela época, 78, 79, um amasso era o maior escândalo. E o dito já tinha passado do amasso há muito tempo (motel não existia, e se existia não havia dinheiro).

O problema era que o João Mayer, pai do Flávio, tinha proibido ele de ser preso. Ele já tinha sido recolhido aos costumes (Boi Preto) 12 vezes (no total acabaram sendo 16 vezes, e nesse quesito, naquela época, ficamos empatados), e havia a sentença do João Mayer: “Se tu for preso novamente, tu nem fala comigo e nem com tua mãe, tu junta tuas coisas e sai de casa. No mínimo tenha vergonha na cara, pois vergonha tu me causa todos os dias perante os amigos e clientes.”

O Flávio estava tão envolvido no confronto, que não viu um gauchinho assistindo o entrevero. O gauchinho se ofendeu e foi até a delegacia prestar queixa do que tinha visto, segundo ele uma "estrupação". Nem sabia quem era, mas o quadro atentava contra os bons costumes.

O Moreira e o Rubilar, inspetores de plantão, não podendo evitar a denúncia, pegaram a Rural preto e branco da Polícia e se dirigiram ao local. Lá chegando, a Prenda já tinha se recolhido, só estava o Flávio se ajeitando. O Moreira só olhou, já conhecendo a figura, e disse: “Vamos, Flávio. Pra delegacia, que te denunciaram de estupro”.

Acontece que o João Mayer tinha um torneio de golfe que começava cedo, e sua passagem para ir ao local era pela Rua Marechal Floriano, em frente ao colégio. Morava na General Osório, e quando dobrou na esquina, viu o Flávio entrando na camioneta da Polícia que saiu rodando. Acelerou, já raivoso, encostou do lado, não disse nada, só olhando... Quando o Flávio vê ele, e quase entrando em pânico, começou a gritar: “É carona, pai. É carona, pai. Acredita! É carona, pai!”.

O João Mayer só apontou o dedo na outra direção, como quem diz “mas tua casa é pra lá”.

LOKO E DERLI PIETRO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Eu já morava em Santa Maria, quando um funcionário que trabalhava na minha casa, entrou na justiça, reinvidicando seus direitos, direitos esses orientados pelo profissional que defendia seus interesses.

Eu nunca fiquei devendo pra empregado. Sempre paguei mais do que rezava o contrato de trabalho, geralmente verbal, pois nunca emitia recibo de pagamentos. Sempre confiava, pois não aceitava o fato de que tudo que sempre foi tratado de forma correta, deixaria alguém com o peito de cobrar o que não merecia. Mas o dinheiro acabava. É nessa hora que apareciam os advogados, geralmente incompetentes, mal formados, que os convenciam de direitos exorbitantes que ainda tinham a receber, os chamados “porta de cadeia”, que se intitulavam “Doutor” (os advogados se apropriaram da palavra Doutor, que muitos não sabem nem o que é, mas mesmo assim se tratam pelo título).

Chegando em Rosário, pedi para o Derli Pietro me acompanhar, pois eu não tinha nenhum profissional da área contratado para me representar. E fomos pra audiência.
Chegamos antes da hora aprazada, e ficamos conversando na sala reservada aos bacharéis. Daí a pouco chegou o advogado reclamante, que tinha sido constituído como o defensor, o Doutor “A. E.”. Chegou lá todo trêmulo e arrastando os pés devido a uma doença que o acometia. Dizia ele que era Parkinson, mas dizem que na verdade ele andava mexendo com ossadas e caveiras num cemitério do Caverá (e parece que tomou um pau...).

Nós sentados, ele tremendo e eu perguntei: “O que que tu tens?”
Ele me relatou seu infortúnio, o que gerou ainda outra pergunta: “Mas porque tu não procura cura?”.

Ele me disse que não tinha cura. E eu disse que ele tinha que estar brincando! “Olha pras minhas mãos, eu era muito pior que tu, não conseguia nem tomar água, só segurando o copo com as duas mãos e com alguém me segurando a cabeça, senão não tinha jeito”, e disse isso esticando as mãos bem firmes pra ele ver.

Isso gerou um interesse imediato no galo, que passou a me questionar como eu tinha conseguido a cura. Relatei pra ele que em Porto Alegre havia um Senhor chamado Heitor que curava esses males só com benzedura e fórmulas caseiras, mas que o acesso até ele era difícil (e era mesmo!), mas que eu poderia conseguir através da senhora Alda Pasquetti (mulher do vice-governador), que tinha sido cuidada por ele “como eu”, e cuja cura havia saído em diversos jornais. Ele concordou e disse que até havia lido a matéria.

De imediato me comprometi a dar o endereço e o telefone do curandeiro, pra resolver seus problemas. E fui bem franco: “Vamos esperar o resultado da audiência pra eu te dar o retorno...”. O Derli sem entender muito, assistia o assunto com atenção, mas sem fazer nenhum comentário.

Fomos chamados na presença do Juiz, por azar o mesmo que tinha prometido me prender em uma audiência anterior quando chamei ele de tendencioso, pois tendia sempre contra o empregador, e que de uma maneira ou de outra, quem sempre terminava desembolsando era a gente.

O interessado pela consulta com o curandeiro não parava de falar comigo. Queria endereço e telefone, sem dar a mínima bola pra o seu constituinte.
Feitas as apresentações, o Magistrado perguntou se havia acordo. O Derli respondeu que, nos termos da petição (12 mil) era impossível, pois não procedia. O Derli foi interrompido pelo Doutor adversário: “Doutor, nos faça alguma proposta que quem sabe a gente se acerta”, enquanto eu mostrava minha mão pra ele, ali, sem tremer.

O Derli propôs então 300,00 (só pra não perder a corrida até o local), o que surpreendentemente foi aceito pelo adversário. O valor causou espanto no reclamante, que questionou seu constituinte.

Se acalmou... E após ir à sala ao lado, teve que ser convencido de que, o que estava pedindo não era verdade, era apenas uma montagem jurídica, e que se eles insistissem naqueles números e não conseguissem provar, a coisa ia se complicar pro lado deles.
Voltando à mesa com o valor aceito, o Derli deu a cartada final: “300 em três de 100, pra não apertar meu cliente, sendo a 1ª à vista e as outras em 30 e 60 dias”, o que foi acordado e homologado.

Saí para ir embora e o rapaz lá atrás me chamando e perguntando o telefone ou o endereço do Seu Heitor. Respondi que ia deixar com o Derli, que saindo do prédio não conseguia parar de rir, incrédulo com o desfecho da audiência. O “A. E.” passou quase um mês pressionando o Derli pelo endereço, que dizia que tinha que “esperar pelo Loko”, já que eu teria de ir pra Rosário quitar as parcelas.

Fui avisado pelo Derli da pressão que ele tava levando, e pra minha sorte, dias antes do prazo pra pagar a parcela, abro a Zero Hora e encontro um convite pra enterro de um tal de Heitor, 82 anos, que havia falecido em Porto Alegre. Peguei aquela página e guardei.

Me apresentei no escritório pra pagar a 2ª parcela. Fui muito bem recebido, mas consternado, mostrei com provas que seu Heitor havia falecido, encerrando aí a promessa de cura.

O Seu Heitor realmente existia, mas não tinha essa bola toda. A Alda Pasquetti, dita mulher do Vice, não passava de uma cafetina do centro de Porto Alegre, que trabalha ainda hoje com Prostituição Executiva (funciona das 13h até 19h, onde homens marcam programas durante o expediente de trabalho e muitas mulheres,geralmente lindas, casadas, fazem programas, dizendo em casa que estão trabalhando. Algumas são bem casadas e vão em busca de prazer, com homens escolhidos pela cafetina. Com sigilo. Sem dança e sem escândalo. Tudo discreto).
Conheço bem o local, pois moramos lá, eu, o Botinha e o Lacerda, no 7º andar, no edifício Palácio Itália. Bem no centro. Era quase uma clínica das gurias, o Lacerda e o Botinha até num aborto ajudaram.