sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O ALFEU, (meio) PAI DO ROBSON




O Robson e o Demitre, logo após um curso intensivo/avançado de “como ganhar galinhas”, se achavam o máximo. Investigavam os galinheiros e queriam se manter em constante treinamento pra não perder a prática. Arrumaram até uns capotes, onde dava pra levar até 4 galinhas embaixo sem chamar a atenção.

Uma noite estávamos na casa do Gordo Armando quando eles sugeriram uma galinhada. Já tinham um galinheiro em vista, devidamente estudado. Ficava próximo à casa do Seu Vítor, na Voluntários da Pátria, depois do hospital. Faltava apenas preparar o restante, pois as 4 galinhas já estavam garantidas nas mãos deles (éramos poucos para jantar, apenas 8).

Acertados os detalhes da janta, saíram os dois. Pegaram seus apetrechos e se dirigiram para o local escolhido. Deu tudo certo, cada um com duas penosas mortas embaixo do casaco, voltando pela Voluntários da Pátria. Um em cada lado da rua. Beleza!

Beleza nada... Era verão. E um guarda noturno desconfiou dos casacos e das figuras, e mandou que eles parassem. Como ele estava no lado da calçada que estava o Robson, pegou ele pelo braço e logo viu as galinhas, enquanto o Demitre já deitava o cabelo. O Robson argumentou que elas vinham da casa da mãe dele e iam para uma janta com amigos. Mas não adiantou pra convencer o guarda, e ele foi levado pra delegacia, sustentando a versão que as galinhas eram dele, mesmo que o Mário Cuiudo (o encarregado da Delegacia) não acreditasse muito.

Quando ele se identificou como filho do Dr. Adão e disse que morava ali por perto, a coisa amenizou. Mas o M. Cuiudo disse que ele só sairia dali junto com o pai, e apenas no dia seguinte, se o Delegado assim decidisse.

O Demitre, quando viu que o Robson tinha sido “impedido”, correu até onde nós estávamos e contou do sucedido. Fomos até a delegacia, mas não podíamos aparecer, pois aí a coisa podia complicar mesmo.

Saltamos o muro pra dentro da Delegacia e fomos até o Robson através da janelinha da cela que ele estava ("boi preto"), e ele nos relatou as decisões do Mário Cuiudo, mas avisou que “deuzulivre” se o pai dele soubesse. Não tava apavorado, pois estava tudo bem, só “não chama o pai...”.

E o que fazer? Chamaram o Olavo, pai do Demitre pra quebrar o galho. Mas o Mário conhecia o Olavo, não dava... Decidi então pedir pra um vizinho do Robson, o Dr. Alfeu, veterinário do Sindicato Rural, pai da Nira e do André. Pessoal muy calma e tranqüila, podia dar certo...

Bati na janela do quarto até que acenderam a luz, perguntando quem era.

Respondi: “Alfeu, aqui é o Loko, o Valenzuela, preciso falar contigo agora”.
Diz o Alfeu: “Mas o que que tu quer essa hora?”
Eu disse: “Não posso te dizer aqui, sai ali na frente pra falar...”
Observação: A janela do pai do Robson ficava do lado da do Alfeu...

Ele abriu a porta da frente. Eu entrei no escritório e expliquei que precisava de um pai para o Robson que convencesse o Mário Cuiudo, mas o Adão não podia saber da situação. O Alfeu topou, vestiu as bombachas, alpargatas, lenço, bem gaúcho, e se foi a passo firme pra falar com a autoridade.

Bateu na porta. O Mário não esperava...
“Boa noite, Seu Mário. Fiquei sabendo que o meu guri tá ai, o que foi que ele fez desta vez?””

O Mário já saiu se explicando... “Me desculpa, Doutor, não sabia que era o seu guri, senão eu já tinha soltado.” E contou pro Alfeu a história do guarda noturno. O Alfeu concordou: “Mas tá certo... Senão esses guris tomam conta da gente.”

O Mário chamou o Robson que veio cheio de receios, cabeça baixa, enquanto o Mário mostrava as duas galinhas. O Alfeu se agigantou... “As galinhas da tua mãe, não é? Por acaso tu anda com fome? Não vê o constrangimento que me faz passar perante a autoridade? Não tenho nem o que falar de tanta vergonha... Amanhã tu vai levantar cedo e cortar grama, arrumar o pátio...”.

Aproveitando a chance, o Alfeu terminou de mijar o Robson... “Mas desta vez, tu não vai jogar tudo pro pátio do vizinho, que já me fez queixa umas quantas vezes. Tu vai limpar tudo e vai lá juntar o que sobrou de sujeira da última vez. Pega essas galinhas e me espera em casa”. Agradeceu o Mário e seguiu o passo tranqüilo.

Na esquina debaixo nós só abanamos pro Alfeu,prometendo uma janta, mas não tivemos nem tempo de retribuir a galinhada pra ele. Ficamos só na promessa e agora na saudade...

Obs.: O Éder, que era uma dos 8 loucos de fome, pouco tempo depois ficou genro do Alfeu, casando com a Nira.

O JOÃO CAVALO E A PATENTE.

Estávamos na Praia (a das Areias Brancas), final de noite. Eram umas 3h da madrugada. Estava frio, eu lembro bem. Foi quando chegou o João Cavalo, em seu Maverick 302 V8, babando de tão bêbado. Ele sentou numa cadeira na nossa mesa, quase dormindo. Estávamos no bar do Mamute (esperando a Beth, mulher do Mamute, nos preparar uns kibes) enquanto tomávamos, claro, umas cervejas.

No bar do Mamute não havia sanitários, e as necessidades fisiológicas dos clientes eram feitas em uma casinha (patente), com um buraco de 1 metro de profundidade feito na terra mesmo e uma cadeira sem lastro para passar o escoamento. Adorável. Ficava no escuro perto de uma cerca, junto com umas “unhas-de-gato”.

O João começou a balbuciar: “Tou me mixando... Me mijando... Me minxan...”.

Enquanto ele exclamava, eu e o Melado fomos até a dita casinha e a mudamos ela mais ou menos meio metro do local onde estava. O buraco ficou exposto, mas no escuro da noite não dava pra ver.

O João levantou e saiu cambaleante em direção à casinha. Ao levar a mão na porta ele sumiu. Ficamos esperando o resultando ouvindo aquela voz embargada do João dizer: “Cheguem guris, cheguem... Eu tou mal...”.

Corremos todos pra lá, mas ninguém queria (obviamente) chegar perto do João Cavalo, que se debateu naquele buraco e ficou com mer** e larvas até a cintura.

Arrumaram uma taquara e o ajudaram a sair, mas o fedor era incrível.

Ele se recuperou um pouco, pegou uma faca e perguntou: “Cadê o Loko?”

Deu um ataque de fúria nesse cristão e ele saiu me correndo. Pra me livrar, me fui pro Rio Santa Maria. Entrei de sapato, jeans e casaco, e fiquei só com a cabeça fora d´água. Ele não conseguia me ver, mas não saia da beira. Ficou raspando aquela sujeira toda e se lavando, enquanto proferia: “Um dia vai ter que sair e eu vô tá te esperando”.

Louco de frio, fui descendo o rio a favor da correnteza, depois de uns cem metros saí e me mandei pra casa. O João só desistiu no clarear do dia, se enrolou num pano e foi embora.

Conseguimos conversar depois de uns 2 dois, e eu morri negando o fato. Passada uma semana, não se podia ficar perto do João Cavalo, ainda mais se fosse contra o vento. Aquele troço se entranhou nos poros e quando ele suava ninguém suportava o cheiro que exalava do corpo.

Após mais de ano e pela insistência dele, tive que admitir que tive influência no acontecido. Ainda bem que ele já tinha largado a faca...