sexta-feira, 12 de junho de 2009

O LOKO E O PADRE ANTÔNIO STRINGUINI

Os que chamo de parentes , por parte da minha mãe, dos quais tenho o maior orgulho, são todos do 3º distrito de Rosário do Sul (Caverazinho) mais especificamente do Mato Sêco. O patrão era o tio Nico (Antônio Esteves da Silva), que era como meu avô (eu e meus irmãos enxergávamos assim). Os guris, o Lalá, Arlindo (Picucha), o Valau, o Cilon e a minha preferida, a comadre Leda, que casou com o Oly Malcorra (meu comprade e meu padrinho), que respeito como meu pai.

Nas décadas de 60/70, não eram todas as pessoas que conseguiam se deslocar para o povo (cidade), embora ja existissem linhas regulares, como a do Lacy de São Leandro.
Costumavam marcar a missa em alguma localidade, e as pessoas se deslocavam para o local do evento, onde eram realizados batizados , bençãos e coisas do gênero.

O Tio Nico, Patriarca da família, era o cara, pouco letrado, mas político ativo e mulherengo de dar inveja, e era dele que partia toda a influência da familia.
O Lalá, filho mais velho do Nico, marcou uma missa na sua casa contando com a presença do Padre Antônio, que garantiria o quórum (ninguém ia nas missas se fosse o Padre Ermes).


Como o padre Antônio, fazia tempo que não ia mais para o interior, foi se informar com a Ida (minha mãe) como chegava no local sem se perder.
Como toda a "papa hóstia", a Ida se colocou a disposição da Santa Madre Igreja oferecendo o CARLO (eu) como guia (já tinha sido até coroinha, mas não deu certo) para acompanhar o Padre, o que foi aceito de muito bom grado.

Acontece que no sábado começava o carnaval, o Alver (pai do carlo) estava pescando no Ibirapuitã, junto com o Tedy,o Jorge, o Telmo e outros , só voltando na segunda feira. O Carlo tava pelado.

Quando me foi imposto que deveria acompanhar o vigário,dei uma pensada e não reclamei.
Acontece que lá seguramente iria estar o Oly, e com certeza estava feito o vale e salvo o carnaval.
Missa marcada para às 15 horas, daí pelo meio dia o Padre chegou para buscar o guia (de jeep1954 bom). Seguimos em frente, chegando no local do evento ai pela14h30, pois a distância era de 55 km.

O povo chegando, a maioria já reunida, todos com roupa de domingo, falando baixo e fazendo reverências ao representante de Deus na terra. Ao ar livre, debaixo de uma laranjeira, estava tudo pronto: a mesa da cozinha servia como altar, alguns bancos em fila,umas cadeiras e alguns cepos.

Começou a missa bem concorrida (umas 60 pessoas) , na primeira fila, o Tio Nico, Tia Catalina, o Oly a Leda e a Tereza do Lalá, logo atrás o Cilon e a Maria, a Elma e a Tia Glória, mais pra trás o Lalá e os outros sequidores do Nico.

Começou a missa e o padre se esmerando, salientava Deus, as necessidades da igreja, a falta de crença, o acesso sem limites às casas de perdição, o álcool, etc...

A missa continuou, chegando a parte do ofertório. O Carlo já tinha se fresqueado com todos os parentes, mas não tinha chegado ao assunto principal da sua viagem (todos achavam que estava a serviço da igreja). De repente teve uma idéia brilhante (já que durante o ofertório as pessoas fazem doações), foi até o barril (barril e local que, na campanha, servia como reservatório de agua potável) que ficava sempre numa sombra, e tinha em baixo rodas e eixo, ou simplesmente uma forquilha que servia de arrastão para ser puxada a boi ou a cavalo, tendo sempre um copo, geralmente de lata, para retirarem ou tomar água.

Pegou o copo , secou, e se dirigiu solene ao Tio Nico, mostrando o copo, que imediatamente colocou a mão no bolso puxou uma nota pequena e foi colocar no copo. O Carlo puxou o copo, e olhou com ar de reprovação para o Tio Nico que entendeu o recado, pegou uma nota gorda e colocou no copo, e assim, os outros vendo a generosidade do Patrão seguiram o exemplo, sempre livrando as mulheres e os menos favorecidos.

Juntou o dinheiro, lavou o copo e colocou de volta ao lugar.

Terminou a missa, o Padre fez alguns batizados, aceitou algumas confissões, fez bençãos deu conselhos encerrando o evento.
Recebeu dos fiéis abóbora, laranja, mandioca, carne de ovelha, milho verde, etc., o que lotou a parte traseira do jeep. Após as despedidas, iniciaram a viagem de volta, nenhum comentario sobre o ofertório (de praxe em qualquer igreja/religião) mas, lá pelas picadas (localidade a 25 km da cidade), o padre não se aguentou perguntando: "Foi boa a colheita?" Respondi que sim, dando uma olhada para a carga do jeep, e fiquei frio.

Chegando na minha casa na hora de descer do veiculo, o padre perquntou:
"Não estás te esquecendo de nada?" "Não", respondi. "Mas cadê o dinheiro arrecadado dos fiéis?" perguntou. "Mas que dinheiro padre?", respondi. "O dinheiro da missa, da gasolina, dos batizados, o Sr. recebeu que eu vi, os presentes estão todos ai, mas agora O Sr. está falando daquelas doações? Aquelas são de parentes meus e já tá destinada ao carnaval e não tem nada a ver com Igreja. Veja bem, o Sr. não vai me dar nada deste monte de rebusque que ganhou e nem eu estou lhe pedindo".
Conclusão, fiz um baita carnaval, o Antônio não me convidou mais pra guia, mas também não fez queixa pra ida! EO OLY SE LIVROU DO EMPRÉSTIMO A FUNDO PERDIDO.

O LOKO E A G.P. (abreviando por causa dos processos)

Ainda existe em Rosário uma senhora, chamada G.P. (nome oculto pelos processos) oriunda de produtores rurais, foi até lapidada, mas na hora do polimento deu crepe (não foi bem polida). Pouco chegada às extravagâncias atuais, tipo assim, tomar banho, uso de calcinhas, sanitários... Enfim, corpinho muy relaxado. Pois este corpo pegou por mim uma antipatia sem precedentes, em qualquer lugar que ela me encontrava estando eu com a minha namorada, fazia sempre uma observação carinhosa ¨O PIOR PORCO SEMPRE COME A MELHOR ESPIGA.¨ Nunca respondi, mas gravei.

O tempo passou, até que uma noite a coisa se ajeitou pro meu lado, acontece que G.P. tem três filhos, a H., a L. e o J., meninas fogosas e o menino faceiro. H, mais bonita e "mais boa", sagrou-se rainha do carnaval do Clube Comercial e G.P. se travestiu de ¨MÃE DE MISS¨, acompanhando (quase) todos os passos da rainha. Começaram os bailes de pré-carnaval, para afinar os blocos acompanhantes.

Num destes pré, a G.P. estacionou seu flamante Corcel ll vermelho, bem na frente do Clube, quase grudando a traseira do carro de cachorro quente do Nataniel (de praxe ele estacionava ali,vendia cachorro-quente, pipoca, vomitava na pia, limpava as mão nos cabelos, exemplo de saúde pública). Quase no fim do baile eu e o Flávio estávamos sentados nas escadas em frente ao Clube quando me ocorreu uma idéia maravilhosa, e consultei o parceiro: Tchê Flávio, se nós atasse-mos o carro da G.P. no do Nataniel o que será que aconteceria ? Rresposta: Não sei mas é uma grande idéia!

Daí pra realização foi imediato. Nos dirigimos para o outro lado da rua onde ficava a COREMA, "Insumos Agrícolas", o Flávio me deu um pezinho, e pulei o muro para achar algo para concluir o projeto. Sorte minha, dentro do pátio tinha um rolo de arame de rabicho (utilizado para estronca de cercas), quebrei um pedaço com uns cinco metros, enrolei e atirei para "F" (os processos!), pulei o muro de volta e sentamos no mesmo lugar para organizar a logística.
Resolvemos agir, com a ajuda dos guris da SAFURFE (a esta altura já tinha mais de vinte), entrei em baixo do carro da G.P., atei o arame no eixo do flamante e trouxe o arame que sobrou contra o fio da calçada. Os guris fizeram um alarido , então atei a outra ponta do arame no cabeçalho da carrocinha do N. (pross...).

Bueno, sentamos para esperar o fim do baile (uma eternidade) e foi aumentando a parceria e a expectativa. Lá pelas seis horas terminou! Daí a pouco saiu a Família Real, todos num alvoroço, o J. parecia uma gazela desvairada, as gurias querendo beijar na boca, meio geral.

Após uma meia hora de luta (desleal) a G.P. conseguiu socar todos para dentro do carro, deu arranque, boto a a cabeça pra fora e se arrancou. O NAT (mais intimo) alheio a tudo, preparava mais molho PROS cachorros-quente, numa panela suja em cima de um liquinho.

Quando o arame esticou, virou tudo... Panela, liquinho, molho, os quitutes (condimentos), pipoqueira, ficaram só os clientes com os come, e os que tavam esperando, com as mãos no ar sem entender nada. E foi aquele gritiriu, a G.P. não viu nada, e só foi parada na esquina da Velgos com a João Brasil pela pm. O Nat, sem se organizar ia reboliando dentro da carroça, sem um triste vidro, tapado dos condimentos, perguntava: "onde estou? onde estou?". O Flavio conta que ele dizia "é o fim do mundo!!".

A G.P. desceu do veiculo furiosa,e partiu pra cima do Nat, para lhe aplicar um corretivo, no que foi contida pela briosa(BM). As três gurias só riam, tudo era festa. Bueno, quando a G.P. se controlou, e meio entendeu o que aconteceu, deu uma olhada na volta, platéia grande, me enchergou, e pronunciou uma frase solene ¨FOI AQUELE PODRE!!¨.

Pagou o estrago do Nat, mas não diminuiu o palavreado comigo. Os anos passaram, realizamos alguns negócios com sucesso, mas ela faz parte da minha história.CONTINUA DESBOCADA,E SEM SER POLIDA.