segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

OS PELADOS (A vingança do Japonês)

O João namorou na Faculdade uma colega de sobrenome Trevisan. Diziam que era chegada nos pilas, e deveria ser mesmo, pois as caronas e as visitas que fazia ao mesmo eram sempre em carro do ano. Só que pra namorar o João, alguém ficou fora da fila (as boa nunca estão sozinhas, e se estão, deu defeito...).

Num fim de semana ficamos em Santa Maria somente eu, o Ney, o Japonês e o João. O Lacerda não desgrudava da Fátima, o Bafo da Cibele, o Botinha de guarda na Base e o Estevão controlado pela Tudinha Amaral (nós também tínhamos medo da Tudinha)

Naquele sábado tinha uma festa da Veterinária, e o João nos convidou. Fomos os 4. Aperitivamos um Velho Barreiro com Cola-Cola antes, pois lá dentro o dinheiro ia ficar curto. Ele, João, tinha meio que se desentendido com a namorada (colega dele) e nós não sabíamos. Fomos ao local, Clube Santamariense, na Venâncio Aires. Compramos os ingressos e entramos.

Não tínhamos nem chegado no salão e já recebemos a informação que a namorada, que agora era ex do João, tinha voltado com o ex dela. Íamos subindo as escadas, e foi quando o João viu o re-enlace que havia acontecido. Ele ficou frio, pois não era de rolo.

Mas o atual da ex-namorada do João, também o viu. Sem mais nem menos, se veio pro lado do João, tipo assim, touro bem brabo e ferido. Ninguém esperava aquela reação desnecessária, e junto com o cara vieram 6 colegas, que já acertaram o João de prima. Não ficamos parados e reagimos (bem rápidos e quase à altura)... Mas eles nos babaram a pau, e fomos retirados pra fora do baile pelos seguranças, sem conseguirmos tocar no chão até a rua.

Perdemos o dinheiro do ingresso (que claro que não quiseram nos devolver) e ainda sofremos algumas ameaças. O João perdeu a namorada, mas acho que terminou ganhando, pois já tinha dado uns galopes suficientes no corpo. Nos retiramos, pelados ($), algumas dores no corpo e no ego, subimos a Venâncio, entramos na Av. Rio Branco em direção à GARE, e em frente à Catedral sentamos, ficamos conversando, meio desnorteados, até que o Ney teve uma idéia: “Vamos fazer uma corrida até em casa. Quem perder paga um Barreiro.”

Aceita a proposta. Mas com uma condição: “Vamos correr pelados”.

O Japonês (Cléber) não aceitou, e propôs: “Eu vou na frente, levo a roupa de vocês e abro a porta do edifício”. “Beleza”, concordamos. Nos escondemos atrás de uma carrocinha de cachorro-quente no lado da Catedral, nos pelamos e ficamos só de sapato e meia.

O Japa pegou nosso vestuário e se mandou em direção ao Brillman. Deixamos ele andar umas 3 quadras e saímos correndo ladeira abaixo, pelados e gritando: “Iauh hu huu...”.

Era uma festa!!

Na esquina da Silva Jardim com a Rio Branco, tinha uma delegacia da Polícia Civil e um posto de gasolina chamado Cilindrão. Para nosso azar, bem do lado do cilindrão, estava estacionada uma Veraneio da BM com 5 PM´s dentro. Passamos lotado por eles. Eu na frente, depois o João e mais atrás o Ney, que estava em desvantagem, pois corria com um sapato de plataforma com uns 15 cm., que ele usava pra ficar mais alto.

Quando viu o camburão, parece que turbinou, pois passou por nós com tudo! Chegavam a saltar chispas das plataforma! Os PM´s demoraram um pouco pra se organizar, o que deu tempo pra chegarmos na nossa porta, que ficava de frente pra Ernesto Becker. Fomos entrar. Estava tudo bem trancado. Chamamos o Japa e nada, mas já ouvindo a sirene do camburão.

Seguimos correndo pela Ernesto Becker até o posto que ficava uns 50 metros à frente. Entramos pro pátio do posto, e nos atiramos dentro da rampa de lavagem e lubrificação que era puro barro e graxa, ao ponto da plataforma do Ney ficar só com os topes do cadarço de fora, e nós até as canelas de barro. Os Brigadianos passaram umas 3 vezes pela rua, já sem sirene, e desistiram. Aguardamos uns 20 minutos e fomos de novo até a porta pra ver se alguém abria ela pra nós, ou pra tentarmos arrombar, ou coisa parecida.

Chegamos na porta e lá estava o Peninha Amaral, apaixonado e cuimento, se despedindo da Leila do Correio (do qual era namorado e ela nossa vizinha, morava no 2º andar).

“Abre a porta, Peninha. Deu uma zebra conosco”, pedimos.

O Peninha, tomado de um pudor desmedido, primeiro tapou os olhos da Leila pra que ela não visse a cena, e logo começou a nos dar lição de moral... “Vocês não respeitam ninguém, onde já se viu, tinham que ir pra cadeia”, etc., etc., etc.

Tava enfezado no discurso, quando a Leila empurrou ele pra um lado, dirigiu a chave pra abrir a porta e disse: “Fecha essa matraca! Tu não vê que os guris precisam de ajuda?”

Abriu a porta e subimos correndo. O namoro deu crepe ali mesmo. E convenhamos: a Leila era muita bonita (e boa). O Peninha era isso que ainda anda por aí, agora até está um pouco melhor. Ela era demais pra bola dele...

Chegando lá em cima, nossas roupas estavam na cozinha, e nada do Japa. Apareceu em casa dali uns 4 dias, com uma cara que mais parecia um sorro. Nós não falamos nada, nem ele. De tanto fazermos judiaria pro Japa, entendemos que essa fora a maneira que ele achou pra se vingar das nossas sandices. O bom cabrito não berra...

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