sexta-feira, 24 de julho de 2009

CARNEADOURO CLANDESTINO EM SANTA MARIA



Em 1974, por influência da mãe, vim para Santa Maria para estudar (o que não evoluiu, pois quando saí para Porto Alegre, após quatro anos, conclui que estava sabendo menos de quando cheguei, embora mais esperto). Nesta época a coisa não era muito abundante, as gurias só pensavam em casar, e as que não pensavam só “davam” para os outros.

Existia na época (e ainda existe) um rapaz chamado Joel (negro, oxigenado e veado). Explico o “veado”: ainda não havia nesta época se concretizado a evolução da espécie (agora é gay, bi, lésbicas, simpatizantes...). Mas, por ser de criação da irmã do Mariano da Rocha (ele dizia) tinha uma influência “loca” sobre as gurias, suas amigas (mulher mesmo).

Num sábado, sol de fim de maio gostoso, nós, estudantes rosarienses (Loko, Nei, João Araújo, Botinha, Bafo, Japonês ,lacerda) morávamos na Avenida Rio Branco, Edifício Brilmann, ap.501 , com acesso ao terraço pelo nosso ap. e naturalmente sem um pila no bolso, pois a coisa funcionava assim:
Do dia 1 ao dia 10, milionários.
Do dia 11 ao dia 20, seja o que deus quiser.
Do dia 21 até o final do mês , entre paupérrimos e miseráveis.

Mais menos 11h,sabado, recebemos a visita do Joel, que nos avisou que tinha marcado uma janta no nosso apê com cinco meninas da Medicina, e que como nós éramos filhos de estancieiros (disse pras gurias que éramos filhos de ricos), nos virássemos na carne para o “churra”, que as meninas trariam um garrafão de vinho. Deu alvoroço, não tínhamos dinheiro, e não podíamos perder a chance.

Como era fim de semana, tinha ficado em Santa, o Loko, o João, o Botinha e o Japonês (que já avisou que tinha “compromisso” - medo de mulher)
Após longa deliberação, chegamos a conclusão que não tínhamos como receber as meninas, a não ser que saíssemos para o interior e tentar GANHAR uma ovelha (coisita que estávamos acostumados a realizar em Rosário).

Porém tinha um problema, CARRO. Ninguém tinha.

Eis que surgiu uma luz. O Antenor do 2º andar (gringo mui bacudo) que morava com o Cezar Torres, de Cachoeira, namorava um professor da Odonto que tinha um Chevette , e morava em diagonal ao Brillmann. Descemos ate 2º andar, Eu e o João, e após longo convencimento, conseguimos que o Antenor fosse lá e pedisse o Chevette para o noivo, alegando motivos de saúde com a sogra, e que como ele não sabia dirigir, o Loko dirigiria. Claro que para este sacrifício nós prometemos que ele ficaria com a “mais BOA” sem discussão.

Após certo conflito, algumas queixas ("tu não aparece, só vem buscar dinheiro de 30 em 30 dias..."), o Noivo cedeu e emprestou o Chevette (rebaixado) cheio das recomendações. Tudo resolvido, subimos os quatro no veículo e seguimos para o lado de São Sepé (o Antenor ia no banco da frente, pois toda a responsa da máquina era com ele). Andamos uns 15 km e dobramos à direita, logo em seguida avistamos um pequeno rebanho que pastava em frente um uma propriedade bem organizada, na beira do corredor. Não deu outra, descemos do carro, pulamos a cerca, cercamos um lote num canto e agarramos o primeiro capão que deu, colocamos no ombro e corremos ate o Chevette , colocando a doação no porta-malas e voamos de volta para a cidade, batendo tudo embaixo e o pau pegando, só parando na porta lateral do Brilmann já sem gasolina.

Rápidos, levamos a doação para o terraço do edifício sem que ninguém notasse. Já o Chevette deu stress com o noivo do Antenor, que só se acalmou com o compromisso do mesmo em ser mais presente.

Chegando lá em cima, prendemos aquele capão de ré em uma persiana e carneamos (claro que demos fim com as orelhas e o pelego). Como o Antenor estava muito empolgado com a aventura, o João já conseguiu que ele comprasse 2 Velho Barreiro e uns limões, pois açúcar nos tínhamos. A coisa tava organizada, canha, carne, mas e a lenha?
Fomos até a estação e conseguimos uns dormentes quebrados, bastante madeira e tudo certo.

A caixa d’água do prédio ficava lá em cima (nos dias quentes ela nos servia como piscina) e colocamos a buchada e os restos ao lado dela. Por volta 8 horas, chegaram as convidadas, e o Joel realmente tinha razão, lindas e dadas. A esta altura, o Loko e o João já tinham tomado um litro de Velho barreiro, estavam assando uma metade da carne ganha, quando chegou o Antenor, liberado, se faceriou para um dos corpos, que correspondeu, descendo para o ap. dele, tudo nos conformes.

Tudo certo, combinamos, vamos apressar esta carne, jantar, tomar um banho, e depois manda vê, pois a coisa não podia tá melhor. A carne assando, as mulher bebendo, e o Loko e o João, bêbados.

Aí a coisa começou a encrespá, as mulheres começaram a encher o saco por causa da buchada (passavam o dia estudando cadáver, e não estavam se sentindo a vontade com a proximidade das frissura) pediam pra que tiramos para outro lugar, pois talvez não conseguissem nem comer o churrasco etc. etc. etc.

Nos olhamos, meio com o ar de deboche, das exigências dos corpos. -“Tchê, João vamos nos livrar desta buchada?” –“Vamos!”, me respondeu de pronto.

Do movimento à ação foi um tiro, pegamos o entulho, um de cada lado, levamos até o parapeito do terraço (5º andar) e sem olhar muito jogamos lá de cima no meio da pista da avenida. Quando aquele bólido bateu no chão, estorou, e saltou todo aquele esterco dentro do restaurante do 19 (que servia pratos feitos e outras iguarias), mas nem que tentássemos um milhão de vezes, conseguiríamos intento em tal façanha, tanta foi a precisão do lançamento.

Bueno, ai a coisa se complicou, chamaram a Polícia e até um programa sensacionalista de TV, chamado Arnaldo Souza. Pra ajudar, juntou uma cachorrada em volta do restolho que brigava e puxava os pedaços para cima e para baixo... E um mosquedo de gente em volta.

“CARNEDOURO CLANDESTINO EM SANTA MARIA” foi a manchete que tomou conta do noticiário local.

Após muitas explicações, como não havia registro de sumisso de nenhum animal,com ajuda de um policial federal, que morava no segundo andar, comfirmando que não teríamos problema algum de conseguir uma ovelha viva em Rosário e trazermos para Santa Maria, o que não era proibido. Lá pelas três da madruga fomos liberados.
As gurias foram a primeira coisa que perdemos, diziam “Deus nos livre ta envolvidas com polícia” e nos noticiários do canal 12...

O pior é que o Alver, ainda com os costumes dos anos de quartel, assistia as notícias para depois almoçar (tudo em preto e branco), e a Ida colocando a mesa, quando ouviu aquele rugido lá da sala...

-“CORRE AQUI IDA E DA UMA OLHADA, aquele lá parece o CARLO?”
-“AI MEU JESUZINHO”, diz a Ida, “é o CARLO”.

Quase terminou a carreira do estudante em Santa Maria...

2 comentários:

  1. Eu me criei escutando essa e outras várias histórias do Loko! Sou filha do Almir, vulgo Bafo!
    Por favor, pede para o Loko contar a hitória do dia que ele tomou um tiro com a arma do meu pai!! hehehe
    Abraços

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  2. Rafael S. Pinto
    Meus parabens Loko pelas histórias. Cheguei aqui por intermedio da Vanessa Lacerda (conhece?) Me lembro quando eu ia de carona para Santa Maria no Chevroletzão que mal conseguia te escuta, mas ouvi muitas destas histórias e dei muitas risadas. Só para lembrar acho que falta a do Porco caramelado. Um abraço e sucesso.

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