sexta-feira, 2 de outubro de 2009

CASOS DA SAFURFE - O CAIXÃO


Estávamos em pleno carnaval. Era terceira noite, a SAFURFE (Sociedade Amigos Furões de Festa) desfilando pela João Brasil com trator, 2 reboques, chopp à vontade (como sempre), umas 40 pessoas participando. Íamos até o Ervilhão e voltávamos pela Canabarro.

A beberança começava às 4 horas para os que tinham ido dormir, os demais continuavam por cima dos reboques sem pregar o olho, era o Cabeludo, Flávio, Chibo, Robson, Demitre, Diler, Armando,gaspar bertoldo... E isso ia até a quarta feira de cinzas samba em alta, baita folia.

Só que só passear era pouco pra SAFURFE. Quando voltávamos pela Canabarro, passamos pela Riachuelo (era mais ou menos 6 da tarde) de fronte a funerária Indart, que estava aberta e com seus produtos na vitrine.

Fui iluminado por uma idéia brilhante! Acompanhado pelas mentes privilegiadas que sempre se uniam à minha, decidimos: íamos pedir um caixão emprestado para o Flávio Indart e fazer um velório durante o baile. Todos de acordo.

O trator seguiu seu trajeto. Eu e o Robson Prates fomos à funerária pedir o objeto emprestado, poderia ser até com um pouco de uso.

Chegamos ao local, batemos palmas, chamamos pelo nome, assoviamos, e não apareceu ninguém. Decidimos então que levaríamos um de qualquer forma. Escolhemos o que parecia o mais inferior, e no outro dia devolveríamos.

Pegamos a peça completa: tampa, visor e Cristo na tampa. Saímos para o lado da João Brasil e entramos à direita em direção ao Comercial com aquele caixão na cabeça, entre meio troteando. Durante nossa passagem acontecia a maior reboldosa... Se benziam, rezavam... Os mais emotivos queriam saber quem era, o que não respondíamos mais pela pressa de esconder o objeto do que inventar algum finado.

Alcançamos o trator e colocamos o caixão no centro do reboque para não chamar a atenção. Seguimos fazendo a festa e planejando o velório.

Preparamos tudo. O morto seria o Cabeludo (estilizado, claro, e porque dormia quase todo o carnaval de bêbado), o Padre seria o Chibo, a viúva a Neusa Righi, seguidas de uma meia dúzia de carpideiras, Sheila, Mauren, Viviane, Nadia, Dagmar, Vera, Nanica, Denise, etc... Os demais portariam velas e encenariam os momentos tristes.

O baile já tinha começado quando, apesar da tristeza e do ressentimento, entramos no Clube subindo para o salão. O caixão na frente carregado acima dos ombros pelo César, Cosme, Edinho, Robô, Armando e Robson. Deram algumas voltas no salão, horrorizando alguns foliões, causando certos desconfortos e embaraços, mas que foram imediatamente superados pelo álcool. Nos dirigimos para o nosso canto no meio de todo aquele sentimento...

Colocamos o caixão, já devidamente ocupado, em cima de duas mesas, seguindo o funeral... Regados à vodka, cerveja e whisky, a festa seguiu. O cabeludo assumiu seu papel com maestria, não parando de beber nunca, embora deitado (o que gerou um ainda porre maior que o que estávamos acostumados a ver).

Baile terminando, resolvemos levar o caixão para o pavimento inferior do Clube, e o colocamos atrás de um balcão, para devolvê-lo na próxima tarde. O Cabeludo, consciente de seu papel de morto, teve que descer a escada ajudado, devido ao porre federal. Se escorou no balcão, viu seu leito e resolveu dar mais uma sesteada para se recuperar, e ninguém viu ele lá.

Terminou o baile, todos se retiraram, o clube foi fechado e ele ficou dormindo. Lá pelas 10 horas da manhã, as moças que faziam a limpeza chegaram, fecharam a porta da frente e começaram seu serviço. De tarde tinha baile infantil, então começaram o trabalho pelo andar superior.

Estavam todas no salão quando ouviram alguns ruídos no andar de baixo. Como estavam todas lá em cima, foram espiar com cautela a origem do barulho. Assistiram a seguinte cena: o cabeludo maaaaal, se levantou do caixão, foi no banheiro, mijô, voltou e se deitou novamente no caixão.

Bateu o pavor! Saíram pra rua, abandonando o serviço, e nenhuma se animava a chegar perto. Rezavam bastante, pois segundo elas o morto tava vivo!

Ligaram pro Presidente do Clube, que não atendeu. Então chamaram o ecônomo, que era o João Alberto Nascimento (tio do Baixinho da copa!).

Ele olhou a situação e se dirigiu até elas: “Párem de frescura! Esse aí é o Cabeludo, mas deixem este borracho quieto, que ninguém agüenta este enjoado acordado...”

Lá pelas três da tarde levamos o cabeludo para tomar banho. O corpo fedia... Guardamos o caixão numa sala no pátio do Clube, e terminamos esquecendo de devolver, mas também não houve solicitação de reintegração de posse.

Ficou por lá uns dois anos e terminou sumindo, ninguém mais viu. Só o cabeludo ainda deve ter saudades.

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