quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O 418 JOSÉ (EU) DE SERVIÇO NO 4º RCC


O soldado José, eu, estava de serviço durante a semana, e no quartel divide-se o tempo em períodos chamados “quartos”, e as duas horas de “quarto” que cada indivíduo fica de serviço, é sorteada. Certa feita, no sorteio dos “quartos”, eu era quem substituiria, na sequência dos quartos, o soldado Henrique Vanzin de Sarandi (gringo furioso, brabo, raivoso e vingativo).

Certa vez desmanchei a beliche dele, que caiu, e fez com que ele ficasse toda noite de plantão para me dar uma facada (tive que dormir em cima dos armários do pelotão, e na madruga, ao me virar, caí e trinquei duas costelas).
Até ai tudo bem, ele já não me amava muito! Até que, nesta noite em que devia substituí-lo, ou seja, “quando fui rendê-lo”, em termos do quartel, encontrei ele dormindo com a arma do lado. Me aproximei “pé por pé”, peguei a arma e sai pra longe. Camuflei a arma e, fiz o que se faz quando se está chegando e não se quer levar um tiro – chamei por ele:
- Guarda... Guarda... Guarda...

Foi quando ouvi aquela voz debilitada:
- Avança a senha.
Respondi:
-Caneco.
E pedi a contra-senha.

-Cantil.
Disse ele.

Respondi outra vez:
-Sou eu, Henrique. Tá na hora.
Fui me aproximando dele, que já estava em desespero procurando por algo com um pedaço de galho de eucalipto na mão.

Ele me pede:
- José, me ajuda. Não sei o que fiz da minha arma. Acho que me roubaram. Por favor, pega esse pau e fica “na hora” enquanto eu procuro. Fica no escuro que o ronda não vê que tu está desarmado.

-Mas tchê! Eu não vou ficar com esse pau na mão! Lembra do Medina com aquela história da invasão do quartel, ele nem perdeu a arma e levou cinco dias de cadeia. Perder a arma vai dar no mínimo 60 dias de cadeia, e ainda vai ter que pagar o equipamento. Isso dá processo pro resto da vida! Tua mãe vai morrer de desgosto!

O gringo chorava, se lamuriava. Consegui convencê-lo que, por cansaço, a gente anda sem se dar conta (tipo sonambulismo), e que talvez ele tivesse largado a arma em algum lugar.

Após convencê-lo chegamos a um acordo: eu ajudaria a procurar a arma, o que o livraria da cadeia, da desonra e etc., e se nós a achássemos juntos ele teria que me pagar na cantina três chokitos e dez pastéis.

Para ele foi um alívio. Começamos a vistoria.

Por uma certa casualidade, o José 418 achou a arma! E teve sua recompensa regiamente cumprida!!

Da raiva anterior passou a ser um grande admirador. Dizia para todos:
- Esse cara é um baita colega!! Bah! Não tenho palavras, me tirou duma fria...

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