sexta-feira, 4 de setembro de 2009

SEU MENOCA - VALDEMAR SILVA


O Seu Menoca, homem rural, sério e bem humorado, era proprietário de terras lá pelo lado da Capela. Passava umas duas semanas na Estância e depois alguns dias na cidade. A casa da cidade se localizava na Rua General Osório. Pra sorte dele, entre a minha e a do Flávio, que, na época, não tinha muita experiência em roubar galinha, pois colocava um grão de milho na ponta do anzol, e passava a tarde tentando pescar uma galinha do vizinho, o Seu Menoca.

O Seu Menoca ficava cuidando e se divertindo, pois realmente não se importava... Era uma diversão pra ele! Uma tarde andavam por lá o Flávio e o Pinga, concentrados na pescaria, que não dava resultado. O Flávio não viu que o Seu Menoca se aproximava, pé por pé, da base do muro, o que foi visto pelo Pinga, que disparou sem ter tempo de avisar o parceiro.

O Seu Menoca ficou embaixo do pesqueiro, o Flávio lá tentando e nada. Até que uma voz falou: "Atira mais longe, senão as galinhas não enxergam o milho."

O Flávio, sem olhar, responde: "Não dá, senão o Seu Menoca vê."
A voz disse: "Não vê nada. Ele já viu e não se importa."

Quando caiu a ficha do pescador, ele voou por cima do muro! Levou o portão da horta do João Mayer entrelaçado nas pernas até a cozinha!E Passou o resto da tarde estudando na expectativa que o Seu Menoca fosse fazer queixa pro pai dele ( Nós tínhamos medo do João Mayer).

Como o Flávio não passava mais na frente da casa do Seu Menoca (quando tinha que ir lá em casa dava toda a volta... Texaco, Rodoviária velha, Marçal Pacheco, etc...), ele me chamou pra entregar um material de pesca que devia ser do Flávio, mas que "não sabia" como que tinha ido parar no pátio dele.

O Seu Menoca era mais arteiro que nós. Noutra feita, ele trouxe da estância umas 50 linguiças e as colocou num varal, longe do muro que dividia o meu pátio com a casa dele, mas deixou duas linguiças próximas do muro divisório, que nem tínhamos visto. Acontece que ele tinha um cachorro, chamado Rex, que não deixava ninguém entrar no pátio.

Ao passar na frente, vimos aquele atentado, mas não nos arriscamos. Fomos dar uma volta na frente da casa do vizinho e lá estava ele, sentado numa cadeira preguiçosa, alpargata, bombacha... E já nos chamando e cumprimentando: "Ê ai gurizada, como é que vamos? E as moda, colégio, tudo bem?"
Respondemos: "Tudo bem, Seu Menoca, e o senhor? Muito cansado?"
"Um pouco", disse ele, "carneei anteonte uma vaca e dois porcos e fiz um lote de linguiça, que é pro aniversário da Adélia" (esposa dele). "Já coloquei pra secar no varal, mas tive que prender o Rex pro lado de cá, pode ele querer mexer nas linguiças..."

Nos olhamos e concordamos com ele. Mas já fomos dando a volta discretamente, pois o Guarda, o Rex, estava impedido, e não podíamos perder tempo.

Enquanto íamos até minha casa, Seu Menoca, pegou uma cadeira de abrir, e colocou num lugar dentro do pátio onde não era visto, para esperar o desfecho do caso. Entramos no meu pátio e fomos direto ao muro. Pulei e peguei as 2 linguiças. Atirei pro Flávio abaralhar, que tava do outro lado do muro! Só depois que eu já estava subido no muro, voltando, que ouvimos aquela voz de longe: "Adélia, acho que tem um pessoal estranho no pátio! Solta o Rex, solta o Rex! Pega Rex, Pega Rex!"

Se divertia às nossas custas e nos controlava com muita autoridade!
E nunca soltou o Rex!!!

Nós cheio de pecados,começamos a evitar passar em frente a casa dele, e no domingo, o dia do aniversário da Dona Adélia, quando a mãe voltava da missa, mandou um recado, que era pra eu e o Flávio irmos almoçar com eles pois estava assando umas linguiças!

Não fomos! Saudades do Seu Menoca...!

Um comentário:

  1. Pois é Loko, também lembro do seu Menoca e da Dª Adélia, quando roubavamos flores para a Suzana ou atravessavamos o terreno dele pelos fundos, da casa do Flávio e saindo na Bento Martins, tinha os terrenos do Otávio e do Potoco como opção, o de voces ficava muito pr´[oximo a casa do velho, sempre apanhávamos algumas frutas dele nos fundos do terreno. ahahahah! Boas lembranças de aproximadamente 40 anos. Beto

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