domingo, 20 de setembro de 2009

O PISTOLETE


O Bafo (Almir), tinha retornado da Amazônia, onde participou do projeto Rondon, um intercâmbio entre universidades federais. Continuávamos morando no Brillmann, nesta época, além deste gringo desajeitado, o João Power, Ney, Botinha, Lacerda, Estevão, eu e o Japonês (Cléber Adir Menine).

A primeira aquisição do Bafo, logo após se reintegrar a comunidade, foi a de um pistolete (arma de pequeno porte, para ser transportada dentro do carro, para quando no campo ou estradas de chão caçar perdiz no pio) calibre 36, com cartuchos recarregáveis.

Mas ao invés de deixar, na casa dele, na campanha, ele levava e trazia todos os fins de semana aquele artefato, o que, para nós, colegas de república, se tornou um inferno. Ele carregava os cartuchos só com pólvora, espoleta e bastante papel, se divertindo em nos dar um “tiro” de surpresa, quando menos esperávamos. Aquele troço virou até despertador, ninguém mais se atrasava senão o pistolete pegava, chegou ao ponto de andarmos nos escondendo e nos cuidando, com medo das ações insanas do gringo.

O gringo era mau, não poupava nem os parente. Numa feita, o Japonês (Cléber), com medo do pistolete, se escondeu no quarto para não entrar em atrito com o tio “Mille” (Tio Mille, Bafo, Gringo... É tudo a mesma pessoa!), que sabendo que tudo era questão de tempo, o Japa teria que espiar pelo buraco do trinck, pois só havia a chave da porta.

Sabendo que o pistolete poderia machucar o sobrinho, foi cuidadoso utilizando algo mais simples, ficou de tocaia do lado de fora do quarto, com um isqueiro numa mão e uma lata de aerosol na outra. A espera já durava quase 1 horas (nós também quietos esperando o resultado), o Japa não ouvindo nenhum ruído foi dar uma espiada no buraco, quando botou o olho, o de prontidão tacou fogo, acionando o aerosol.

O Japa não ficou cego pois, por instinto, baixou a cabeça, mas não livrou a sobrancelha, e a testa,que ficou com um redondo queimado por aquele lança chamas, repartindo a sombrancelha em dois pedaços distintos, deve ter ficado alguma marca até hoje.

O consumo de pasta de dente se multiplicou, de tanto o Japa passar na cara para parar a ardência. Perdeu uns cinco dias de cursinho, e o bafo flutuava entre realizado e preocupado com o resultado. Seguindo a trajetória, deu pra ver que o elemento não era mole.

Uma tarde o João chegou cedo da universidade, me chamou na cozinha e foi logo dizendo: “Tchê Loko, não ta dando mais para agüentar o Bafo, terminou a paz, ninguém consegue estudar durante a semana, já falei com ele, mas parece que piorou, todos tão se queixando. O Lacerda já fala em se mudar, temos que tomar uma atitude! Vamos botar esta merda fora e dizer que roubaram.”

Não dava, ia dar crepe, resolvemos então dar um cagaço no bafo.
Compramos um vidro de 200 ml de mercúrio cromo, conseguimos um saco plástico, estreito ,comprido e forte. Colocamos o mercúrio dentro, e com um elástico tirado de um calção, prendemos no meu peito, coloquei uma camiseta clara, o João preparou o pistolete (bem carregado) e ficamos esperando o bafo.

Neste meio tempo, chegou o Japa, se interou do assunto, gostou, e já foi nomeado vigia para avisar quando chegasse o Bafo. Quase 6 horas, sobe o Japa excitado: “Tá chegando, tá chegando.”

Eu no canto do corredor esperando. Quando ele chega, o João sai do quarto: “Bah, tu chegou bem na hora! O Loko tá impossível, já ia dar um para ti quieto nele, o pistolete tá pronto.”

O bafo só disse: “Deixa comigo, me dá aqui! Pega os meus livros”, estendendo-os para o João.

Neste momento entrei no corredor, a uns três metros dele, que me vendo queimou cartucho, exclamando: “Deu pra ti.”

Foi uma fumaceira e uma papelama que embaçou o corredor. Iimediatamente apertei a parte de baixo do plástico com tanta força que saltou mercúrio até no rosto, e a camisa ficando empapada de “sangue”.

O Bafo, vendo a cena, se estacou. Olhou para o pistolete, atirou ele longe, olhou para o João, dizendo: “Olha o que tu fez!”

“Eu não, tu” - diz o João – “Eu não tenho arma.”

Eu caía contra a parede, ensangüentado e tossindo. E o gringo, transtornado, questionando: “Com o que que tu carregou esta bosta?

“Com os cartuchos vermelhos da caixa em cima do guarda-roupas”, disse ele.

“Meu Deus, aqueles são baletões pra bicho grande! Matei o Loko... Matei o Loko.”

Eu já caído babando, o João se aproximou, apoiou minha cabeça e sentenciou, ta morrendo.

Deu um desespero e um descontrole no homem que começou a falar sem nexo: “Sobrinho, desce na avenida, ataca uma ambulância, chama um médico.”

Não contente, desceu ele mesmo, fez uma volta lá embaixo, e voltou correndo escada acima. Neste ínterim, o zelador Henrique, já bêbado, viu a cena e foi falando: “Tem que chamar a polícia”.

O Bafo chegando e o zelador naquela ladainha: “Tem que chamar a policia, e vou avisar não tenho nada com isto, to descendo.”

O bafo inconsolável, chorava , batia a cabeça na parede: “O que que eu fiz!”

Foi chegando gente, vizinhos, todos pra ver a tragédia. E eu me levantando, nós rindo, foi quando me aproximei do Bafo, que me olhou dizendo: “Não levanta, pode piorar o teu estado, te deita.”

Levou uns cinco minutos para ele começar a entender o que houve e se recompor.

Santo remédio, pois o pistolete desapareceu do ap. e ele, nunca mais nos azucrinou, embora ás vezes dava uns GRUNIDOS, talvez de saudade.

Um comentário:

  1. Muito obrigada, "Seu Loko"!!
    Quase morri rindo! Levei uns 10 min para conseguir ler tudo, lia uma frase e parava para dar umas risadas!
    Essa história já virou lenda urbana, cada um conta de um jeito diferente!
    Eu acho que o Sr. anda exagerando, meu papaizinho seria incapaz de fazer "tanta arte"! hahaha
    Abraços
    *um dia espero conhecer o Sr.

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