terça-feira, 1 de setembro de 2009

O CAMPEIRO DAS PICADAS (3º DISTRITO DE ROSÁRIO)


O Júlio Vasconcellos é grosso. Vou definir o que, em escala, é um grosso, no nosso linguajar.

1º- COLÃO: É aquele que mora na campanha, sabe tudo sobre a lida de campo e os afazeres pertinentes ao meio. Quando vai ao povo é sempre meio inseguro, mas acha que gerente de banco, oficial de qualquer força, leiloeiro, delegado, dono de casa rural, é tudo seu amigo.

2º- GROSSO: É aquele o qual tem parentes próximos com alguma terra ou coisa parecida. Não anda bem a cavalo, não sabe fazer grande coisa, mas se acha o tal, pois também é patrão por herança.

3º- MEIO GROSSO: Tem parentes com propriedade rural, passa temporadas de férias na campanha mas não aprende muita coisa. Serve de chacota pra os do meio, fala errado procurando acompanhar os mesmo, a fim de se integrar à comunidade.
É mais ou menos por aí...!

Eu e o Júlio, que levou o Paulo, irmão dele de contrapeso, resolvemos plantar uma lavoura de milho na propriedade do avô dele, seu Augusto Vasconcellos. Preparamos tudo e o resultado foi excelente. Quando a lavoura estava pronta, na fase do milho verde, descobrimos que na praia estava faltando a iguaria por problemas climáticos, e os feirantes estavam comprando por 0,50 a espiga, o que era 6 vezes maior que o preço do quilo vendido em sacos, ou a granel.

A informação era correta. Na época eu era gerente de suprimentos da MLM (Macedo, Linhares, Mascarenhas), e o Júlio era agrônomo da Estância Santa Regina (NTO), e confirmamos a informação com exatidão.

Contratamos um caminhão truck e o carregamos de espigas, todas do mesmo padrão, até em cima das guardas! Terminamos de carregar no entardecer e fomos amanhecer em Tramandaí. Foi a festa! Até Capão, já tínhamos vendido, num só dia, a metade da carga.

Resolvemos dormir em Capão, após resfriar a carga em um posto de combustível, e nos preparamos para descansar, que no outro dia continuava o trabalho. Levantamos pelas 6h, tomamos um banho de mar pra ativar o sangue, fizemos um mate,tomamos café e nos preparamos após o balanço finaceiro, pra sair.

Quando vimos, a uns 60 metros, um guri, tentando, com um buçal na mão, pegar uma égua (magra, seca e com frieiras no lombo) para atrelar em uma carroça. O guri arrodeava e nada, não chegava na égua, o que causou um certo nojo no grosso: "Mas que guri bem infeliz! Égua véia dessas, lá fora dou uma gravata e derrubo!!"

Dito isto, levantou do banco onde estava e se deslocou ao local do entrevero.

"Me dá esse buçal aqui, guri! Vou te mostrar como é que se faz lá no Caverá!"
Pegou o buçal da mão do guri e se dirigiu ao pobre animal, meio pela frente, com firmeza e autoridade.

Foi levando o buçal na frente, com o braço esticado, e foi se dirigindo pra cabeça do mesmo. Quando faltava uns 30 centímetros pra ele alcançar o pescoço, aquela égua se encolheu, deu um giro no corpo, e soltou as duas patas no aparelho reprodutor do Júlio, que com o impacto, recuou uns 5 metros.

Passou uns 3 minutos se rolando e tentando respirar (não tinha como a gente se aproximar, de tanto risada e podia ser perigoso, o Júlio "se botar" em nós). Se levantou curvado, com as coxas coladas, as canelas abertas pra fora, com os pés apapagaiados, procurando um pau pra matar a égua! Achou um galho de eucalipto e se dirigiu direto para o monstro!!

O guri gritava: "Chega, pai, chega, pai!", e logo apareceu uma meia dúzia de caboclos que convenceram o grosso a desistir da idéia, ninguem tinha pedido a ajuda dele.

Encerramos as vendas no outro dia (bem sucedidos), mas na viagem de volta gastamos uma boa parte do lucro comprando gelo e uma bacia pra aliviar o companheiro.

Pelo que sei, este resquício o tem acompanhado pela vida, pois contam que um dos elementos geradores de esperma é um pouco maior que o outro e bem moreninho...
O resto da lavoura, foi vendido para estancia azul, que colheram, transportaram, secaram, e nos pagaram a vista.

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