quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O LOKO E O GAROBA (Garibaldi Martins)



Após meu retorno de POA (onde morei por 18 anos), arrendei, em parceria com Gaspar Santana, uma terra ao lado do Rio Caverá (propriedade da Sr. Carlos Prates), local muito procurado por caçadores de capincho e outros exterminadores da fauna.

Logo após a ponte sobre o rio, uns 100 metros pra dentro do mato, era onde tínhamos estrutura para puxar água para a lavoura (“puxe”), o que era feito por um trator, sempre supervisionado por algum funcionário. Eu estava na lavoura quando o supervisor avisou que havia junto ao “puxe” dois elementos desconhecidos.

Desloquei-me para lá e encontrei o Garoba e o Elefante, dois caçadores, bons atiradores e bem conhecidos meus. Tudo bem! Ficamos conversando, tomando um vinho, e o Garoba se gabando de suas qualidades, até que resolvemos testar essas qualidades tão exclamadas.

Marcamos uns 30 metros, onde foi colocada uma tampa de garrafa em cima de um moirão, que serviria de alvo. Dessa forma veríamos quem atirava melhor. Fui atrás do banco da minha camioneta (Fiat comprada do Dego, na qual o Mário César da madeireira tinha se suicidado dentro) e peguei a minha arma, uma Puma calibre 38, e voltei para o local do teste.
Acontece que o Garoba tinha levado uma lingüiça para o almoço, que estava enrolada no arame da cerca, pouco mais para o lado da tampa pra onde estavam se dirigindo os tiros.

O Garoba deu o primeiro tiro e a tampa voou seguida de um alarido de felicidade. Deu outro tiro... Mesmo resultado. E então começou:
-Atira, Elefante! Atira!

Ele atirou. Mesmo resultado. Outro tiro... E mesmo resultado. Como eles estavam atirando de calibre 22, o resultado era excelente!

Chegou minha vez! Eles cuidavam atenciosamente a tampa, e assim não viram que apontei minha arma mais para o lado de onde ela estava e atirei. Nada!! A tampa nem se mexeu!

-“Atira de novo, infeliz!” - Dizia o Garoba!

Atirei.

Nada!

A esta altura, junto com o vinho que estávamos tomando, o alarido do Garoba fazia um eco no Caverá!
-“Mas não é possível”, dizia ele. “Um homem com uma arma dessas errando deste jeito, é o legitimo chambão.”

Eu fiz uma cara de encabulado, e após vários apelos, tive que atender o pedido para atirar novamente, pois, segundo eles, eu não tinha acertado nem o moirão da cerca.

Dei o terceiro tiro.

Nada!
Mas vi que a última volta da lingüiça se despencava em farelos no chão. Guardei a arma, fingindo estar constrangido, tomei mais um gole de vinho, subi na camioneta e dei a partida enquanto o Garoba dizia:
-Quando quiser aprender a atirar, liga aqui pro papai ou com o professor Elefante.

Risada geral!

-Deus me perdoe, errar no dobro desta distância com essa máquina.

Foi quando fechei a porta dizendo:
-“Tá bem, Garoba. Tchau.” Ficou o Garoba uma risada só, e o Elefante mais comedido.

Andei uns 10 metros e dei ré. Ele me perguntou:
- O quê que tu quer Loko?

Respondi:
-Só pra te avisar que se precisar de uma panela para cozinhar teu guisado pode pegar lá no acampamento.

Ele:
- Mas tu acha que vou andar caçando com uma panela pendurada na cintura? O negócio é assado, vinho e saber atirar.

Eu novamente:
- Ah tá, então dá uma olhada na tua lingüiça...

E me arranquei.


O apelido do Garibaldi é “Gariba”, mas em homenagem ao Luis Leão, que é muito enjoado e o chama assim, segui o ritual.

Um comentário:

  1. Guri medonho, quando o Júlio(robô), me falou sobre o teu flog não acreditei que voltaria ao passado, mas, acredito que a gurizada até hoje deve estar rindo. Uma juventude que não foi transviada e consegui criar os filhos aprendendo que o respeito aos mais antigos sempre será o princípio da juventude!

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