domingo, 6 de setembro de 2009

O JOÃO CAVALO NA MANUTENÇÃO DA KASPER.


Por quatro anos, fui encarregado dos suprimentos da Kasper. Subordinada à minha área estava a manutenção da empresa (elétrica, hidráulica, equipamentos, etc.), o que naturalmente era terceirizado.

O João Cavalo, apelido dado a ele pelas habilidades que tinha em dar um “cavalo-de-pau” ou um “zero” com um carro no menor espaço possível, como por exemplo, em cima da ponte José de Abreu de Rosário, ou usando uma pista só na frente do Comercial... Tudo com a maior facilidade.

Ele era proprietário de um Maverick V8 com alguns HP´s a mais, branco perolizado, rebaixado... Um canhão! O João prestava serviços de manutenção, e seu forte era a parte elétrica.

Não me lembro onde estávamos, lembro que o João pediu que se aparecesse algum serviço, que eu passasse para ele, que a coisa andava meio devagar. Uma tarde, Sr. Teldo Kasper, Diretor Presidente do grupo, me chamou na sua sala e pediu que mandasse alguém averiguar o que estava acontecendo com a chave da luminária de cima da sua mesa, que piscava constantemente, interferindo também em diversos equipamentos (como a empresa lidava direto com soja, os equipamentos eram conectados direto com a bolsa de valores de Chicago).

Enfim, que resolvesse o assunto! Chamei o João que no outro dia se apresentou com secretário e tudo (o secretário dele era o Joãozinho, seu vizinho, que chamava o João Cavalo de Carepa. O Joãozinho hoje é um empresário de sucesso).

Avisei do conserto ao Sr. Teldo, que foi para uma reunião em outro andar da empresa. A sala do Sr. Teldo media 7x8, com teto de gesso rebaixado e trabalhado, luminárias de 2,40 m duplas, luz do dia, com mesa de reunião, mesa principal, tudo de vidro e uma parafernália de equipamentos. Antes de começar o serviço, o João foi alertado para forrar tudo e evitar desligar qualquer equipamento. Caso tivesse que movimentar alguns documentos, chamasse a secretária responsável.

O João começou examinando as tomadas, as descidas de energia, e não encontrou nada. Resolveu então tirar a luminária onde apareciam os curtos-circuitos para examinar os reatores, não encontrando nada. Organizou um poleiro com umas cadeiras e um banco, para poder expiar a fiação acima do gesso. Foi colocando o corpo para dentro da abertura se debruçado sobre essa estrutura de gesso. Em cima era escuro, e ele já estava com meio corpo dentro do forro. Foi quando levou um choque de um fio sem isolação, que encostava nos outros. Começou a tremer! Derrubou o dito “andaime” que tinha feito, e abaixo de mau tempo tentou se segurar no forro, abrindo os braços. Foi pior! Desceu junto com ele a metade do gesso da sala, com tudo, quebrando o vidro da mesa e o que estava embaixo do teto.

Minha sala era no andar debaixo. Quando ouvi o estouro, subi correndo já imaginando o pior. Abri a porta e vi aquele caos: tudo quebrado! O João tremendo, sentado contra a parede, o cabelo em pé, a cara preta do choque e o resto tudo branco do gesso. O Joãozinho, o secretário, mais afastado, com os olhos arregalados, nem olhava pra mim e se mordia para não rir. Dizia ele, sério, com um ar de deboche:
- Pobre do Carepa! Pobre do Carepa, quase morreu!

Era uma polvadeira só, que tinha sido gerada com o gesso quebrado! Não demorou muito pra o Sr. Teldo adentrar na sala, abrindo o verbo!

Chamou todos de tudo, inclusive o contratante (eu). Escutamos cinco minutos aquela ladainha, calados, até que ele parou de falar. Foi quando eu disse:
- Posso falar, Sr.Teldo?
- Mas o quê que tu tem para falar?
- É o seguinte: o Sr deveria estar agradecendo este homem, pois onde ele levou o choque, estava tudo em curto a ponto de pegar fogo, e esse gesso que caiu foi fixado só com pedaços de tiras de madeira, como o Sr bem pode ver ai nos restolhos. Isto ia cair sobre a sua cabeça, pois despencou de repente.

O João só deslocou a luminária.
Continuei:

-“Observe que os cantos estão todos trincados” -com o peso do João, o que não quebrou, trincou- “Isso já era pra ter desandado.”

O velho olhou os cantos da sala e realmente estavam cheios de trincas. Após observar, meio assustado, se sensibilizou pedindo desculpas ao “pobre coitado do mártir”. Chamou a empresa construtora, que não soube explicar o acontecido e, embora desconfiados, refizeram a instalação e o gesso como cortesia.

Autorizou o pagamento que seria feito pra o “coitado”, condicionou o meu departamento para que toda manutenção fosse destinada ao João “Mártir”.

Não demorou muito tive que me livrar do João, pois como protegido do “home”, ficou se achando muito grandão.

Um comentário:

  1. hahahahahaha que viagem essas histórias do tio locuco!!! quero saber quando sai o livro!!!

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